O Sonho do Trem e o Aviso às Almas Criadoras

21/06/2025

por Fabríccia

Hoje quero registrar algo precioso que vivi — ou melhor, sonhei — para não esquecer jamais da lição que me foi entregue em forma de imagem, sensação e símbolo.

Eu sonhei que estava num lugar antigo, como se tivesse sido transportada no tempo. Havia um trem, e fazia muito frio. Eu e outras crianças, que eram como amigos de infância, estávamos nessa viagem. Mas, por alguma razão que não sei explicar, entrei por um outro caminho dentro do trem. Um caminho alternativo, quase mágico, uma espécie de dobra na realidade.

Enquanto meus amigos seguiram por uma rota congelada, eu acabei acessando outra dimensão — um lugar mais leve, mais bonito, onde a viagem se tornava doce. Passei por várias estações, e em todas sentia beleza, movimento, até mesmo poesia. Quando descemos, perguntei a eles:

— Onde vocês estavam? Eu não os vi. A viagem foi tão boa… Queria que vocês estivessem comigo.

Eles me olharam com uma espécie de estranhamento e tristeza. Disseram que passaram frio o tempo todo, que só havia neve e desconforto. E eu entendi, com uma ponta de dor no coração, que havíamos vivido a mesma viagem em planos diferentes.

Ficamos numa vila — talvez tenhamos crescido ali, não sei ao certo. Só sei que eu lia um livro. E mais do que isso: eu vivia o livro, como se estivesse dentro da história. Em determinada página — número 43, lembro com clareza — uma mulher dizia algo tão bonito que me comoveu. Peguei um cartaz, colei algumas rosas secas e escrevi aquela frase ao lado. Fiz algo como um jornal poético à mão.

Estava pronta para levar ao mural da vila, que até então estava vazio. Ninguém postava nada, ninguém ousava criar. E era isso que fazia daquele mural um espelho silencioso de uma vila calada.

Mas então cometi a besteira: antes de postar, mostrei para os meus amigos.

Não porque pediram, mas porque eu quis saber:

— O que vocês acham? Tá bom assim?

Eles não disseram que estava bonito. Eles não celebraram o gesto. Ao contrário, começaram a apontar "erros". Corrigir palavras. Criticar. Um homem e uma mulher tomaram a frente, apagaram partes do que escrevi, quiseram reescrever à maneira deles.

Eu, com vergonha, me enrosquei. Gaguejei. Disse:

— Deixa pra lá…

Mas por dentro, algo se quebrou.

A coragem que eu tinha para me expressar se dissolveu naquela nevasca de críticas.

E quando acordei, compreendi:

O criador não deve andar por muito tempo com pessoas críticas demais, nem com pessoas racionais demais.

Porque o crítico demais faz o criador se sentir burro, pequeno, incapaz. E o racional demais exige lógica de tudo — e o criador, que muitas vezes cria do invisível, começa a se achar louco por não ter explicação para o que sente.

Assim, o criador se cala. A centelha apaga. A inspiração foge.

E lembrei do cartaz com as rosas secas. Eu dizia nele:

"Uma rosa viva, entre rosas mortas, acabará secando. Nunca o contrário."

Como os morangos: basta um estragado para adoecer todos os outros.

Esse sonho foi um aviso. E talvez sirva para outros também:

Nem todo mundo está pronto para ver a beleza que você carrega.

Não mostre o rascunho para quem não tem olhos de criação.

Não pergunte ao seco o que acha do seu florir.

E se for para errar, que seja publicando — não se calando.